segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PORTUGUÊS 5º ANO 11... INTERPRETAÇÃO DE TEXTO " RACONTO DE NATIVIDADE"...


RACONTO DE NATIVIDADE
1. – Senhor doutor, estou aqui no bolso com um milhão de cruzeiros de uma boiada que vendi e quero lhe comprar aquelas suas terras para cima do ribeirão. Pago à vista.
2. O médico mediu de alto a baixo seu interlocutor. Era moço, feições de caboclo, vestido com decente modéstia.
3. – Um milhão de cruzeiros, à vista, pelas terras? Pois o que lastimo é que elas não sejam minhas. O senhor se enganou. São de um meu primo advogado . O nome é parecido com o meu. Eu sou médico.
4. Com fala mansa, o visitante pediu ao médico que interviesse no negócio. Tinha urgência em comprar as terras. Não pagava muito, mas pagava à vista. O dinheiro estava ali no bolso. Houve uma telefonada e o dono disse que não queria vender as mesmas. Nem por um, nem por dois milhões. O outro coçou a cabeça, triste. Da segunda vez que viu  o rapaz, o médico estava em seu hospital. Era o único bom hospital da zona. Nessa ocasião, o caboclo vinha acompanhado da esposa, que esperava o primeiro filho. O médico ofereceu um quarto pequeno, sem banheiro, com diária razoável, mas o moço abanou a cabeça. Para a patroa, queria outra coisa. Foram vendo os apartamentos maiores, que o rapaz indagou, com certa impertinência, se não havia nada me lhor do que aquilo tudo.
5. – Há. Mas é um apartamento de grande luxo. Quase nunca está ocupado. Da última vez que serviu, foi para a nora do coronel Quinzinho. Sim, aquele, sim, servia. Duas salas com tapetes e rádio, com terraço e até gaiola de passarinho, para não falar no telefone e no quarto de banho. Chegando à casa, o médico relatou o fato à esposa.
6. – Você veja. Aqui em Goiânia tem gente de dinheiro que nem se suspeita. O apartamento de grande luxo foi ocupado por uma moça, acaboclada, mulher do homem que me procurou, não faz muito tempo, com um milhão de cruzeiros no bolso…
7. A esposa do médico estava regando sua lata de gerânios. Suspendeu a operação e disse:
8. – Eu vi quando aquele moço veio. Ninguém dava nada por ele. E com um milhão no bolso!
9. O parto foi difícil, mas o médico era hábil. A parturiente teve a melhor assistência. Dez dias depois de ter ela dado à luz um menino forte, o pai, muito contente, procurou o diretor do hospital. Iriam embora ao dia seguinte. Acontecia que estava lá embaixo, com o carro, um irmão seu e a mulher começara a chorar com saudades de casa. Não fazia diferença que fossem àquela tarde e não na manhã seguinte? Claro que não fazia diferença. A cliente e a criança estavam passando muito bem. Mas o diabo era que o moço havia esquecido em casa seu talão de cheques. O médico sorriu:
10. – Pois a coisa é assim. O parto vai lhe custar muito menos que um milhão. Vá embora para casa, sossegado, e venha amanhã saldar sua conta.
11. Nem em uma semana, nem em duas o estranho rapaz apareceu. Ao fim desse tempo, o médico foi procurar o endereço da cliente. Tomou seu carro e rodou para lá. Fora da cidade, localizou o caboclo, de manga arregaçada, lavrando um mofino campo.
12. – Que é isso, rapaz? Você se esqueceu da conta?
13. O outro retrucou, manso, que não se esquecera. Nem da conta, nem de toda gentileza de que sua esposa fora alvo. Apenas não podia pagar nem um tostão, pelo menos naquela dura época do ano. Talvez, depois da colheita, se Deus ajudasse, ele saldaria pelo menos a quinta parte da dívida. E prosseguia olhando a sua terra mesquinha.
14. – Mas não posso entender! O senhor é um homem à míngua de recursos! Como é que ainda outro dia tinha um milhão no bolso?
15.– Ter um milhão, eu não tinha, seu doutor. O que tinha era vontade que meu primeiro filho nascesse em quarto de gente rica e minha patroa fosse tratada a modo de mulher de fazendeiro. Por isso, maquinei aquela história das terras. Agora que a criança nasceu, se o senhor quiser me prender, me prenda.
16. O médico estava furioso quando tornou à casa e contou o fato à mulher. Por coincidência, ela regava os mesmos gerânios. Estacou no gesto. Ouviu o relato inteiro e começou a chorar:
17.  – Se você puser aquele pobre coitado na cadeia, eu rasgo seu diploma de médico. Nunca ouvi história mais bonita em toda a minha vida!
18.  Eu também não. E é por isso que a passo aos leitores, à guisa de crônica de Natividade.
(SILVEIRA, Helena. In:____Sombra Azul e Carneiro Branco. São Paulo, Cultrix, 1960)
GLOSSÁRIO
Raconto – narração, relato, narrativa
Intervir – servir de mediador
À míngua – em extrema pobreza
Mofino – infeliz, pequeno, acanhado
À guisa de -  à maneira de

O relato apresenta uma situação de contraste social: como o dinheiro (ou a falta dele) pode alterar o comportamento  das pessoas.
Vamos, então, à análise do texto.
I – Marque com um X o sinônimo adequado das palavras grifadas, de acordo com o texto:
1. “Pois o que lastimo é que elas não sejam minhas.” (par. 3).
a. (   ) desejo  
 b. (   ) invejo 
 c. (   ) lamento
 d.(   ) agradeço
2. “Tinha urgência em comprar as terras.” (par. 4).
a. (   ) pressa
b. (   ) necessidade
c. (   ) desejo
d. (   ) prazer
3. “… até que o rapaz indagou…” (par. 4).
a. (   ) reclamou 
b. (   ) perguntou
c. (   ) resmungou
d. (   ) exclamou
4. “Por isso, maquinei aquela história das terras.” (par. 15).
a. (   ) apresentei
  b. (   ) inventei 
c. (   ) fabriquei
 d.(   ) alterei
5. “O médico estava furioso quando tornou à casa…” (par. 16).
a. (   ) triste
 b. (   ) aflito 
 c. (   ) curioso   
d. (   ) enfurecido
II – Marque com um X a alternativa correta, de acordo com o texto:
6. Quando procurou o médico pela primeira vez, o caboclo queria:
a. (   ) internar a esposa que esperava o primeiro filho
b. (   ) comprar terras
c. (   ) comprar gado
d. (   ) vender terras
7. Quando procurou o médico pela segunda vez, o caboclo queria:
a. (   ) conversar                    
 b. (   ) vender gado
c. (   ) internar a esposa        
d. (   ) insistir na compra das terras
8. Dentre os quartos do hospital, o caboclo escolheu:
a. (   ) o mais barato                        
 b. (   ) um quarto pequeno
c. (   ) um apartamento de luxo      
d. (   ) um apartamento médio
9. O caboclo não pagou a conta do hospital porque:
a. (   ) não gostou do atendimento dado à esposa  
 b. (   ) não costumava pagar suas contas
c. (   ) esqueceu                                                          
d. (   ) não tinha dinheiro
10. Quando o caboclo disse que não tinha dinheiro para pagar a conta, a reação do médico foi de:
a. (   ) compaixão    
b. (   ) tristeza   
c. (   ) raiva    
d. (   ) compreensão
11. O caboclo maquinou a história das terras porque queria:
a. (   ) dar um trote no médico.
b. (   ) queria que seu filho nascesse em quarto de gente rica e que sua  esposa fosse bem tratada.
c. (   ) que todos, na cidade, pensassem que era rico.
d. (   ) ficar com as terras e não pagar
12. Ao saber do fato, a esposa do médico reagiu da seguinte maneira:
a. (   ) ficou furiosa e aconselhou o marido a mandar prender o caboclo
b. (   ) não se interessou pelo caso
c. (   ) chorou e disse ao marido que se mandasse prender o caboclo ela rasgaria o seu diploma
d. (   ) deu boas gargalhadas
13. Levando em consideração o atendimento que é dado às pessoas nos hospitais, o caboclo teve razão ou não para agir do modo que agiu? Por quê? Dê sua opinião e justifique-a.

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